Um avanço que redefine a medicina moderna
O Prêmio Nobel de Medicina de 2025 reconheceu Shimon Sakaguchi, Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell por uma descoberta que transformou o entendimento do sistema imunológico: a tolerância imunológica periférica, o mecanismo que impede o corpo de se voltar contra si mesmo.
Essa conquista redefiniu a compreensão sobre doenças autoimunes, transplantes e câncer — mostrando que a imunidade não é apenas um sistema de ataque, mas também de moderação.
A pergunta que mudou tudo
A virada começou com uma pergunta simples e genial feita por Shimon Sakaguchi nos anos 1970: “O que acontece com um corpo que nasce sem timo?”
Na época, acreditava-se que o timo era o único responsável por “ensinar” as células T a distinguir o próprio do estranho. Sakaguchi observou que camundongos sem timo desenvolviam doenças autoimunes severas poucos dias após o nascimento — o corpo literalmente se atacava.
Esse fenômeno indicava que a regulação imunológica não terminava no timo. Existia um mecanismo adicional, fora dele, capaz de manter a paz imunológica. Era a primeira pista do que mais tarde seria chamado de tolerância periférica.
O experimento decisivo
Para testar sua hipótese, Sakaguchi realizou um experimento simples e brilhante: ele clonou camundongos sem timo e, em um grupo, transferiu células T reguladoras (Tregs) vindas de camundongos saudáveis.
O resultado foi imediato — os camundongos que receberam as Tregs não desenvolveram autoimunidade.
Pela primeira vez, ficou provado que existia um grupo de células cuja função principal era impedir o sistema imune de atacar o próprio corpo.
A longa jornada até a aceitação
Mesmo com essa evidência, a comunidade científica não se convenceu. A ideia de que o sistema imune pudesse ter um “freio biológico” parecia contraintuitiva. Por mais de 20 anos, os resultados de Sakaguchi foram recebidos com ceticismo — parte pela novidade do conceito, parte pelas limitações tecnológicas da época, que dificultavam a confirmação de uma classe nova de céulas.
A confirmação só viria quase 40 anos depois, quando Mary Brunkow e Fred Ramsdell fizeram uma descoberta genética que completou o quebra-cabeça.
A chave genética: o gene FOXP3
Brunkow e Ramsdell estudavam camundongos da linhagem scurfy, que apresentavam inflamações graves e falhavam em controlar a resposta imune. Em 2001, identificaram que a causa era uma mutação em um gene até então pouco conhecido: FOXP3.
Pouco depois, verificou-se que mutações nesse mesmo gene em humanos causavam a síndrome IPEX, síndrome de Imunodesregulação, Poliendocrinopatia, Enteropatia e X-ligada, uma doença autoimune devastadora em meninos.
O FOXP3 mostrou-se o comando-mestre das Tregs - o gene que define sua identidade e função. Sem ele, as Tregs não se formam ou não conseguem exercer seu papel de moderação. O que Sakaguchi havia observado empiricamente décadas antes ganhou, enfim, explicação molecular.
A partir daí, o consenso se estabeleceu: as Tregs são um pilar central do equilíbrio imunológico. O corpo não apenas ataca - ele também precisa de mecanismos ativos para não destruir a si mesmo.
As revelações mais marcantes
O sistema imune é quase inconcebivelmente complexo: ele pode gerar até 10¹⁵ receptores de células T diferentes, cada um capaz de reconhecer um padrão molecular único. Diante de tamanha variedade, erros são inevitáveis - e sem as Tregs, o corpo seria incapaz de conter o caos.
Uma simples mutação no FOXP3 é suficiente para desorganizar todo o sistema imune, provando o quanto o equilíbrio depende de regulação precisa.
Tumores aprenderam a usar esse mesmo mecanismo de proteção a seu favor, recrutando Tregs para “se esconder” do sistema imune. Isso mudou o paradigma da imunoterapia: agora sabemos que, em alguns casos, é preciso remover o escudo antes de atacar o inimigo.
Do laboratório à prática clínica
A descoberta abriu novas frentes terapêuticas:
Em doenças autoimunes, terapias com interleucina-2 em baixas doses estimulam as Tregs para reduzir inflamações sem suprimir todo o sistema imune.
Em transplantes, Tregs cultivadas em laboratório estão sendo testadas para evitar rejeições sem necessidade de imunossupressores intensos.
Em câncer, terapias buscam inibir Tregs para que o corpo volte a reconhecer e combater tumores.
Mais de duzentos ensaios clínicos em andamento exploram essas estratégias, marcando uma transição da imunologia teórica para uma medicina verdadeiramente personalizada.
Um novo paradigma para a medicina
O Nobel de 2025 consagra uma lição poderosa: a força do sistema imune está no equilíbrio, não no ataque.
Essa visão inaugura a era da medicina da modulação — terapias que não combatem o corpo, mas o ajudam a se autorregular.
Para profissionais de saúde, entender esse equilíbrio é fundamental. E para empresas de tecnologia em saúde, como a Simple One Med, traduzir descobertas complexas em conhecimento acessível é parte da missão de simplificar a prática médica.
Porque o futuro da medicina não será apenas sobre curar doenças, mas sobre ensinar o corpo a se curar com inteligência e precisão.
Outras informações em:
Eles entenderam como o Sistema Imunológico é mantido em cheque (fonte oficial)







