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O Nobel da Medicina 2025 e as Doenças Auto-Imunes

Felipe da Simple

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4 min

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atualizado 28/10/2025

atualizado 28/10/2025

resumo

resumo

  • O Nobel de 2025 reconheceu Shimon Sakaguchi, Mary Brunkow e Fred Ramsdell pela descoberta da tolerância imunológica periférica.

  • Sakaguchi demonstrou que camundongos sem timo desenvolviam autoimunidade, revelando um mecanismo regulador fora do timo.

  • Décadas depois, Brunkow e Ramsdell descobriram o gene FOXP3, essencial para a formação das células T reguladoras (Tregs).

  • O FOXP3 mostrou ser o maestro genético que impede o sistema imune de atacar o próprio corpo.

  • As descobertas abrem caminho para novas terapias contra autoimunidade, rejeição de transplantes e câncer.

Um avanço que redefine a medicina moderna

O Prêmio Nobel de Medicina de 2025 reconheceu Shimon Sakaguchi, Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell por uma descoberta que transformou o entendimento do sistema imunológico: a tolerância imunológica periférica, o mecanismo que impede o corpo de se voltar contra si mesmo.
Essa conquista redefiniu a compreensão sobre doenças autoimunes, transplantes e câncer — mostrando que a imunidade não é apenas um sistema de ataque, mas também de moderação.

A pergunta que mudou tudo

A virada começou com uma pergunta simples e genial feita por Shimon Sakaguchi nos anos 1970: “O que acontece com um corpo que nasce sem timo?”
Na época, acreditava-se que o timo era o único responsável por “ensinar” as células T a distinguir o próprio do estranho. Sakaguchi observou que camundongos sem timo desenvolviam doenças autoimunes severas poucos dias após o nascimento — o corpo literalmente se atacava.

Esse fenômeno indicava que a regulação imunológica não terminava no timo. Existia um mecanismo adicional, fora dele, capaz de manter a paz imunológica. Era a primeira pista do que mais tarde seria chamado de tolerância periférica.

O experimento decisivo

Para testar sua hipótese, Sakaguchi realizou um experimento simples e brilhante: ele clonou camundongos sem timo e, em um grupo, transferiu células T reguladoras (Tregs) vindas de camundongos saudáveis.
O resultado foi imediato — os camundongos que receberam as Tregs não desenvolveram autoimunidade.
Pela primeira vez, ficou provado que existia um grupo de células cuja função principal era impedir o sistema imune de atacar o próprio corpo.

A longa jornada até a aceitação

Mesmo com essa evidência, a comunidade científica não se convenceu. A ideia de que o sistema imune pudesse ter um “freio biológico” parecia contraintuitiva. Por mais de 20 anos, os resultados de Sakaguchi foram recebidos com ceticismo — parte pela novidade do conceito, parte pelas limitações tecnológicas da época, que dificultavam a confirmação de uma classe nova de céulas.

A confirmação só viria quase 40 anos depois, quando Mary Brunkow e Fred Ramsdell fizeram uma descoberta genética que completou o quebra-cabeça.

A chave genética: o gene FOXP3

Brunkow e Ramsdell estudavam camundongos da linhagem scurfy, que apresentavam inflamações graves e falhavam em controlar a resposta imune. Em 2001, identificaram que a causa era uma mutação em um gene até então pouco conhecido: FOXP3.
Pouco depois, verificou-se que mutações nesse mesmo gene em humanos causavam a síndrome IPEX, síndrome de Imunodesregulação, Poliendocrinopatia, Enteropatia e X-ligada, uma doença autoimune devastadora em meninos.

O FOXP3 mostrou-se o comando-mestre das Tregs - o gene que define sua identidade e função. Sem ele, as Tregs não se formam ou não conseguem exercer seu papel de moderação. O que Sakaguchi havia observado empiricamente décadas antes ganhou, enfim, explicação molecular.

A partir daí, o consenso se estabeleceu: as Tregs são um pilar central do equilíbrio imunológico. O corpo não apenas ataca - ele também precisa de mecanismos ativos para não destruir a si mesmo.

As revelações mais marcantes

  • O sistema imune é quase inconcebivelmente complexo: ele pode gerar até 10¹⁵ receptores de células T diferentes, cada um capaz de reconhecer um padrão molecular único. Diante de tamanha variedade, erros são inevitáveis - e sem as Tregs, o corpo seria incapaz de conter o caos.

  • Uma simples mutação no FOXP3 é suficiente para desorganizar todo o sistema imune, provando o quanto o equilíbrio depende de regulação precisa.

  • Tumores aprenderam a usar esse mesmo mecanismo de proteção a seu favor, recrutando Tregs para “se esconder” do sistema imune. Isso mudou o paradigma da imunoterapia: agora sabemos que, em alguns casos, é preciso remover o escudo antes de atacar o inimigo.

Do laboratório à prática clínica

A descoberta abriu novas frentes terapêuticas:

  • Em doenças autoimunes, terapias com interleucina-2 em baixas doses estimulam as Tregs para reduzir inflamações sem suprimir todo o sistema imune.

  • Em transplantes, Tregs cultivadas em laboratório estão sendo testadas para evitar rejeições sem necessidade de imunossupressores intensos.

  • Em câncer, terapias buscam inibir Tregs para que o corpo volte a reconhecer e combater tumores.

Mais de duzentos ensaios clínicos em andamento exploram essas estratégias, marcando uma transição da imunologia teórica para uma medicina verdadeiramente personalizada.

Um novo paradigma para a medicina

O Nobel de 2025 consagra uma lição poderosa: a força do sistema imune está no equilíbrio, não no ataque.
Essa visão inaugura a era da medicina da modulação — terapias que não combatem o corpo, mas o ajudam a se autorregular.

Para profissionais de saúde, entender esse equilíbrio é fundamental. E para empresas de tecnologia em saúde, como a Simple One Med, traduzir descobertas complexas em conhecimento acessível é parte da missão de simplificar a prática médica.

Porque o futuro da medicina não será apenas sobre curar doenças, mas sobre ensinar o corpo a se curar com inteligência e precisão.

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